Entendendo o Século XXI

Muitos de nós assistimos às notícias com perplexidade. Afinal, o que está acontecendo no mundo hoje? Este início de século parece um momento confuso, em que as coisas parecem de fato estar fora de ordem. Entretanto, se pudéssemos voltar no tempo, veríamos que em muitas outras épocas na história as pessoas sentiram o mesmo. É o natural estranhamento de quem se encontra no interior de um processo histórico e não é capaz de enxergar a situação como um todo.

É geralmente difícil entendermos o momento em que estamos vivendo como parte de um processo histórico. E quando não temos esse entendimento, fica também difícil compreendermos os muitos significados dos fatos, das notícias que vemos diariamente nos telejornais. O ser humano é um ser histórico. Nós estamos construindo a História que estará nos livros do futuro. É preciso nos compreendermos como parte de um devir, parte de um processo de construção da História.

Conceito de História

A ideia que a maioria das pessoas tem em relação à História é de que é uma área do conhecimento que se ocupa de estudar o passado. Essa visão acerca da História acaba por não lhe fazer justiça e diminuir-lhe a importância. Entretanto, justamente por conta da grandeza dessa disciplina, acaba sendo difícil estabelecer-lhe uma definição que seja suficientemente abrangente e que dê conta do que ela realmente é.

Talvez não seja correto dizer que a História seja uma ciência. A História é mais do que uma ciência, uma vez que abrange diversos campos da ciência e ao mesmo tempo lhes serve, fornecendo-lhes instrumentos importantes. Faço a seguinte tentativa de definir a História (ainda que correndo o risco de cometer algum equívoco): A História é a área de conhecimento que estuda os seres humanos, as sociedades, o mundo, levando em consideração o devir, a passagem do tempo. Estuda as transformações das sociedades e do modo de vida dos povos ao longo do tempo. Nesse processo, leva em consideração aspectos políticos, sociais, econômicos e culturais, sendo assim, relaciona-se à sociologia, à antropologia, à filosofia, entre outros campos do saber. O conhecimento científico não pode existir alheio à História. Pode-se dizer que a História serve a todas as ciências. Isto porque a própria consciência da evolução do conhecimento científico é dependente da História. As ciências não evoluem sem que haja a consciência de que estão inseridas em um processo histórico.

O estudo da História não se faz meramente coletando dados. A História não se resume à narração de acontecimentos importantes. O estudo da História não é simples e, como todo campo de conhecimento, requer o uso de um método científico. Exige a análise dos acontecimentos, dos processos históricos, suas causas e consequências, sua interpretação à luz das ciências humanas. Por essa razão, à medida que os fatos se aproximam temporalmente de nós, torna-se mais e mais difícil a sua análise.

O distanciamento histórico é importante para que a análise se faça de modo isento, justo e de acordo com uma visão ampla do processo. Um acontecimento histórico não pode ser compreendido sem que sejam analisadas as suas causas, os seus antecedentes, todos os processos e mecanismos internos, além de seus desdobramentos, de suas consequências. Daí a necessidade do distanciamento, para que se possa lançar um olhar para a imagem completa e não para pedaços isolados da realidade.

Entender o momento histórico atual

Não há dúvida de que estamos vivendo um momento histórico importante (na verdade, eu creio que não haja um momento histórico que seja desimportante, mas há momentos mais decisivos, principalmente quando consideramos a história da humanidade como um processo). Na virada do século, vivemos acontecimentos decisivos que certamente estarão nos livros de História (alguns inclusive já estão). O papel das novas tecnologias nesse processo histórico é fundamental. Estamos vivendo uma verdadeira revolução, a revolução da internet.

A internet de fato mudou o modo de vida das sociedades contemporâneas. A Primavera Árabe, ocorrida no início do século XXI, só foi possível por conta das redes sociais, que deixaram de ser apenas uma diversão e se tornaram um importante veículo de comunicação. No entanto, a internet também está sendo responsável por desencadear um perigoso processo de disseminação de uma espécie de contra-conhecimento, a divulgação da intolerância, do reacionismo e do ódio. Surpreendentemente, o ultraconservadorismo e as ideologias de exclusão e ódio ressurgiram recentemente, impulsionados pela força das mídias sociais. A eleição de Donald J. Trump para a presidência dos Estados Unidos da América simboliza esse ressurgimento. Vivemos um clima de tensão e instabilidade política no mundo, de efervescência da discussão política, de polarização. Vivemos com a constante sensação da iminência de algo maior, bom ou ruim, que nós só entenderemos no futuro. De fato, não é possível compreendermos plenamente agora o momento histórico em que estamos inseridos. Talvez seja possível fazermos uma leitura dos dias de hoje somente daqui a trinta ou cinquenta anos. O que não significa que não devamos sempre refletir e tentar analisar a realidade, ainda que a partir dos dados de que dispomos hoje e segundo a perspectiva de quem olha de dentro do processo. Ainda que essa análise seja imperfeita, produzirá dados que poderão ser muito úteis no futuro.

Estudar a História também incluir tentar entender o presente. Esse presente que precisa ser entendido como estando inserido em um processo histórico, como parte de um devir. Sendo assim, é preciso que pensemos o presente. Pensemos a conjuntura política atual. E esperemos, até que possamos realmente fazer uma análise, distanciada e isenta, que nos permita compreender melhor o momento histórico que estamos vivendo.

Principais acontecimentos históricos do início do Século XXI:

• Atentado às Torres Gêmeas em Nova Iorque (11 de setembro de 2001)
• Guerra do Iraque (2003-2011)
• Grande Recessão (2008-2012)
• Primavera Árabe (2010-2012)
• Guerra Civil na Síria (2011- atualmente)