segunda-feira, 19 de junho de 2017

Negras e Negros no Brasil: Uma dívida que ainda não foi paga

Da série de artigos sobre Direitos Humanos no Brasil.

Já no século XVI, os portugueses começaram a trazer africanos para o Brasil como escravos. Esses homens e mulheres foram arrancados de sua terra natal, afastados de suas famílias e trazidos para o nosso continente a fim de servir de mão de obra escrava. Os escravos negros tiveram um papel importante na formação da economia brasileira, seja nas plantações de cana de açúcar, seja nas minas de ouro e diamante ou em outras atividades. Os negros foram escravizados no Brasil até o final do século XIX. Foram mais de três séculos de exploração, violência e tratamento desumano. Os negros sofreram um terrível castigo sem ter feito nada para merecê-lo.


O fim da escravidão no Brasil não foi fruto da bondade e conscientização por parte dos brancos. Em 1845, o Reino Unido promulgou uma lei que ficou conhecida como Lei Aberdeen, a qual proibiu o tráfico de escravos através do Oceano Atlântico. Cinco anos depois, o governo brasileiro decide criar sua própria lei para oficializar a proibição que já existia na prática (era necessário preservar a imagem de nação soberana do Brasil). Em 1850, surge a Lei Eusébio de Queirós, proibindo a entrada de escravos africanos no Brasil. Depois disso, outras leis foram criadas, até que em 1888 é promulgada a Lei Áurea, que oficialmente aboliu a escravidão no Brasil.

O fim da escravidão foi o resultado de muita pressão estrangeira, mais do que do desejo de garantir aos negros o direito à liberdade. Tanto é que o governo brasileiro, embora tenha proibido a escravidão, não criou nenhum programa para integrar essa massa de ex-escravos à sociedade. Os negros foram postos na rua sem bens, sem educação e sem emprego. Muitos até se lamentaram de ter recebido a "liberdade", pois suas vidas se tornaram ainda piores do que quando eram escravos. Os negros sofreram com a miséria, o desemprego e a falta de moradia. Acabaram marginalizados e continuaram excluídos da sociedade.

Pouco mais de um século depois do fim da escravidão, o povo negro no Brasil ainda sofre as consequências dessa exclusão. A maior parte da população pobre ou miserável em nosso país é negra. Mais de 60% da população carcerária no Brasil é formada por negros. Mais de 60 jovens negros são assassinados por dia no Brasil. Um jovem negro é assassinado a cada 23 minutos. Não há como negar que o Brasil tem uma enorme dívida histórica para com os negros. Seus antepassados vieram para cá contra a vontade, e hoje os negros são parte importante da nossa população. O Brasil deve muito ao povo negro. Os negros construíram este país, construíram sua cultura, escreveram sua história. Mas ainda são excluídos, discriminados, marginalizados, agredidos e assassinados. Ainda é muito difícil ser negra ou negro no Brasil.

A política de cotas para negros ainda é muito criticada. Mas é necessária. Políticas afirmativas são um meio de diminuir a desigualdade que ainda existe em nosso país. É preciso garantir o acesso das negras e dos negros nas universidades e no serviço público. Defender as cotas não significa dizer que negras e negros não têm capacidade de conseguir o acesso por seus próprios méritos, mas que as oportunidades de acesso lhes são negadas por sua condição social, condição essa que é uma herança maldita da escravidão. O combate ao racismo é também parte importante dessa busca por igualdade racial. Nosso país não pode ser tolerante em relação ao racismo.

Lutar por uma sociedade mais justa e igualitária é um dever moral de toda cidadã e de todo cidadão. Só existe justiça quando existe igualdade de oportunidades. É preciso combater o racismo, a discriminação, a desigualdade social entre negros e brancos e o extermínio da juventude negra. E principalmente, é preciso lutar pelos direitos das mulheres pobres e negras, que são talvez o grupo mais excluído e mais discriminado em nossa sociedade. A luta pela igualdade racial é um assunto que diz respeito a todos. Precisamos levar isto a sério.

Nenhum comentário:

Postar um comentário