terça-feira, 30 de maio de 2017

BRASIL: Crise Política ou Crise Moral?


Nem mesmo os melhores autores de séries de TV teriam a capacidade de criar uma história tão mirabolante quanto a que estamos vivendo na política brasileira nos últimos anos. São intrigas, escândalos de corrupção, conspirações etc. O clima de instabilidade política acaba afetando a vida de todos, gerando incertezas e desconfiança em relação ao futuro. Não se consegue ver uma luz no fim do túnel. A solução para a situação política do país parece cada vez mais difícil.

Desesperados, muitos cidadãos se apegam ao que se tem chamado de "messianismo político". O brasileiro busca um salvador da pátria. Um líder forte que seja capaz de moralizar a política e recolocar o país no rumo do progresso. No entanto, é evidente que um único indivíduo, por mais habilidoso e politicamente forte que seja, não é capaz de, sozinho, resolver os problemas do país. O Brasil precisa de mudanças muito mais profundas do que simplesmente uma mudança de governante.

Mas a crise em que o nosso país se encontra é somente uma crise política?


O povo brasileiro se acostumou à imoralidade na política. Assistimos cada vez mais resignados e insensíveis aos crescentes escândalos de corrupção envolvendo vereadores, deputados, prefeitos, governadores, senadores, ministros, presidentes. Isto tem sido considerado cada vez mais normal para nós. A corrupção não nos choca mais.

David Gunnlaugsson, ex-primeiro
ministro da Islândia.
Em 2016, um enorme escândalo de corrupção internacional explodiu, os famigerados Panama Papers, envolvendo políticos e empresários de vários países do mundo (inclusive o Brasil teve seu representante ilustre citado nesse escândalo, o ex-deputado federal Eduardo Cunha...). Entre os citados estava o primeiro ministro da Islândia, David Gunnlaugsson. Pouco tempo depois que saiu a notícia do escândalo e a menção ao seu nome, Gunnlaugsson renunciou ao cargo.¹ Um homem suspeito de envolvimento com corrupção não podia ocupar um cargo de tamanha importância. Esse caso mostra como os islandeses encaram a política. Ainda que não houvesse nada comprovado contra o primeiro ministro, ainda que não houvesse até aquele momento nenhuma condenação, era necessária a renúncia por uma questão moral.


Mas e no Brasil? O presidente Michel Temer, ainda enquanto interino, em 2016, afirmou que não via problema em nomear ministros que são investigados por envolvimento em corrupção. "Não sei se isso é um fator impeditivo para eventual nomeação", ele disse em uma entrevista a um telejornal.² No início de 2017, vimos nos telejornais cinco vereadores eleitos de Foz do Iguaçu, Paraná, serem levados em uma viatura da polícia à câmara para tomarem posse e, em seguida, voltarem para a cadeia! Os cinco estavam presos desde dezembro de 2016.³ E a população está se acostumando a ver isso diariamente na televisão. Cada vez que surge um elemento novo em investigações da Polícia Federal, vemos os deputados na Câmara Federal inquietos, temendo ser denunciados e buscando maneiras de se blindar.

Essas coisas não podem ser toleradas. As nossas autoridades precisam ser exemplos de honestidade, de moral, de ética. Nossas crianças estão crescendo assistindo a essa imoralidade. Como poderemos ensiná-los a ser honestos e íntegros?

Um problema talvez mais sério é que a imoralidade e a corrupção estão profundamente enraizadas em nossa sociedade. Somos um país de malandros, o país do "jeitinho brasileiro". A vantagem indevida, a mentira, a desonestidade parecem ser parte de nossa cultura. Uma cultura que precisa mudar.

Nossos políticos são um reflexo de nosso povo. É do povo que vêm os políticos. Os políticos não mudarão enquanto o povo não mudar. A crise política que o Brasil enfrenta hoje é consequência de uma crise moral muito mais séria. Uma crise que só pode ser superada por meio de uma educação humanizadora. É um problema que não pode ser resolvido em curto prazo. Talvez só vejamos algum resultado nas próximas gerações, e isto somente se o trabalho começar a ser feito hoje.

A escola precisa ensinar e debater ética, tanto na forma de disciplina, como parte do currículo formal, como também como tema transversal presente em várias outras disciplinas. Mas a escola não pode, sozinha, levar a cabo esse projeto. Outras instituições precisam realizar projetos para conscientizar as pessoas acerca da ética e da moral. No entanto, seria ingenuidade esperar que o Estado tomasse a frente desse projeto, já que o próprio Estado está contaminado por corrupção e imoralidade. Aqueles que realmente se importam com o futuro do país, educadores, líderes comunitários e religiosos e muitos outros precisam abraçar esta causa, se querem poder sonhar com dias melhores para a nossa nação.

Por Bruno Fernandes de Lima.

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